quarta-feira, 27 de junho de 2012

Gongos Em Juazeiro -Bahia

Retirado de: http://culturalaeca.blogspot.com.br/p/congos-juazeiro-ba.html



OS CONGOS
Juazeiro-BA, 30 de outubro de 1972       
Antonila da França Cardoso             
               Os festejos de Congos, em Juazeiro costumam ocorrer em fins de outubro ou início de novembro e está ligada às homenagens à Nossa Senhora do Rosário.
            Às seis horas da manhã, eles estão nas ruas festejando sua padroeira. Vozes rouquinhas, desencontradas, arfantes pelo esforço despendido na marcação dos passos, cantam com grande entusiasmo:
“A Viuge do Rosaro
É a nossa guia
Louvemos a Deus
E a viuge Maria”
        Neste ano, trajam calças brancas e blusas azuis com golas cor de rosa; vivos azuis na gola tipo marinheiro e cor de rosa na boca das mangas. As divisas de hierarquia são colocadas na gravatinha curta. Na cabeça, bicos brancos, com pedacinhos de espelho incrustados.
            À frente do grupo, o zelador com a bandeira do Rosário. Em fila dupla, os Congos encabeçados pelos seus guias – dois exímios pandeiristas. Nota-se atualmente a expressiva redução numérica do grupo e a presença quase maciça de crianças. Sempre dançando, os Congos se dirigem à casa do Rei e da rainha do ano:
“Nossa Rainha mandou-me chamar
Nossa Rainha mandou-me chamar
Vamos a terra pisar devagar
Vamos a terra pisar devagar ”
           Os soberanos muito bem trajados aguardam a chegada dos Congos e juntos se dirigem à Catedral de Nossa Senhora das Grotas. O rei vai à frente seguido do grupo que vai dançando e soltando fogos.
“Que Senhora é aquela
Quem vem naquela bandeira?
-É a Virgem do Rosário
Que ela é nossa padroeira

Que Senhora é aquela
Quem vem nas alturas?
-É a Virgem do Rosário
Mãe de Deus, a Virgem pura

Menina da saia branca
Que é que traz nesse balaio?
-Trago cravos e rosas
Para a Virgem do Rosário”
          Até o final da década de 1950, os Congos costumavam realizar a Cerimônia do Mastro, em frente à Igreja de N.Sª das Grotas sob a orientação de José Cassiano e, posteriormente, Cipriano. Oito dias antes da festa, os Congos se dirigiam à Praça Matriz cantando, com todo respeito:
“Vamos à Igreja
Vamos louvar
O pé do Cruzeiro
Vamos beijar”
         Junto ao velho cruzeiro que ali havia, fincavam o mastro, em cuja extremidade superior havia um quadro de tecido cor de rosa, pintado nas duas faces com a imagem de N.Sª do Rosário, em moldura de madeira. Uma carretilha fazia o quadro girar ao sabor do vento. Durante a cerimônia cantavam os mesmos versos que cantam hoje ao se dirigirem à Catedral. O mastro ali permanecia até sete dias após os festejos. No dia da festa, os Congos, devidamente uniformizados, acompanhavam os futuros reis até a Igreja, cantando:
“Alegre gente
Que vou levar
Rainha nova
Pra coroar”
          Durante a missa festiva o próprio padre coroava os reis, após o que os Congos deixavam a igreja e iam derrubar o mastro. Este era conduzido para a casa da rainha recém –coroada, onde permaneceria até o ano seguinte. No percurso e volta os Congos também acompanhavam, até suas casas, os reis do ano anterior, entoando a forma variante da mesma quadrinha:
“Alegre gente
Que vou levar
Rainha velha
Pra entregar”
          Esta cerimônia deixou de ser realizada há cerca de12 anos. Atualmente, ao chegarem à catedral os Congos entram em silêncio e ocupam os primeiros lugares. Às nove horas, participam da missa solene em louvor de sua padroeira. Ao final da cerimônia, dançam em redor da Catedral e reconduzem os reis à sua residência, sempre cantando:
“Viva Maria no céu
Viva Maria no céu
Viva Maria no céu e na terra
Junto com nosso Senhor.”
           Em casa dos soberanos, régio café os aguarda. No ano em que não há pagadores de promessa, ou se estes não têm condições de oferecer-lhes o café, os Congos o tomam em casa do seu chefe, ou do seu guia, o velho Berto (Bertolino Cardoso dos Santos), responsável pela direção dos ensaios desde um mês antes da festa.
           O resto do dia os Congos gastam em seus folguedos, dançando e bebendo cana. Costumam visitar a casa de alguns de seus companheiros, membros da irmandade de Nossa Senhora do Rosário, ou de pessoas que, de alguma maneira, contribuem para o brilhantismo de sua festa. Nessas casas, costumam beber e, antes de retirar-se, dançam um pouco em sinal de agradecimento:
“É marujo do mar
-Marinheiro só
Eu também sou do mar
Marinheiro só”
          Seus cantos são uma mistura de louvor à Virgem do Rosário e melancólicas toadas de marujos:
“Eu sou marinheiro arrojado
Nos mastros da gaioneira*
A viugem Santa do Rosário
                                                             E a nossa padroeira

E a nossa padroeira
A viugem Santa do Rosário
                                                             Valei-me Nossa Senhora
                                                             E a cruz do santo sacrário

    Eu sou marinheiro arrojado...

Convidemos Vosssa Graça
Nem que seja num só fim
                                                              Vamos louvar a senhora
 E ao amado São Domingos

     Eu sou marinheiro arrojado...

 Ao Senhor dos Navegantes
                                                             Seja o nosso amparo
                                                             A estrela que nos guia
                                                             E a Senhora do rosário

   Eu sou marinheiro arrojado...

  Eu sou navegante sem barco
                                                             Venha vós nos amparar
                                                             A Senhora do Rosário
No céu, na terra e no mar

Eu sou “marinheiro...”

* gaioneira- deturpação do vocábulo canhoneira.





Livro: Nosso Vale... Seu Folclore Beira-Rio


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