Retirado de: http://culturalaeca.blogspot.com.br/p/congos-juazeiro-ba.html
OS CONGOS
Juazeiro-BA, 30 de
outubro de 1972
Antonila da França Cardoso
Os festejos de Congos, em
Juazeiro costumam ocorrer em fins de outubro ou início de novembro e está ligada
às homenagens à Nossa Senhora do Rosário.
Às seis horas da manhã, eles estão
nas ruas festejando sua padroeira. Vozes rouquinhas, desencontradas, arfantes
pelo esforço despendido na marcação dos passos, cantam com grande entusiasmo:
“A
Viuge do Rosaro
É a
nossa guia
Louvemos
a Deus
E a
viuge Maria”
Neste ano, trajam calças brancas e
blusas azuis com golas cor de rosa; vivos azuis na gola tipo marinheiro e cor
de rosa na boca das mangas. As divisas de hierarquia são colocadas na
gravatinha curta. Na cabeça, bicos brancos,
com pedacinhos de espelho incrustados.
À frente do grupo, o zelador com a bandeira do Rosário. Em
fila dupla, os Congos encabeçados pelos seus guias – dois exímios pandeiristas.
Nota-se atualmente a expressiva redução numérica do grupo e a presença quase
maciça de crianças. Sempre dançando, os Congos se dirigem à casa do Rei e da
rainha do ano:
“Nossa
Rainha mandou-me chamar
Nossa
Rainha mandou-me chamar
Vamos
a terra pisar devagar
Vamos
a terra pisar devagar ”
Os soberanos muito bem trajados aguardam
a chegada dos Congos e juntos se dirigem à Catedral de Nossa Senhora das
Grotas. O rei vai à frente seguido do grupo que vai dançando e soltando fogos.
“Que
Senhora é aquela
Quem
vem naquela bandeira?
-É a
Virgem do Rosário
Que
ela é nossa padroeira
Que
Senhora é aquela
Quem
vem nas alturas?
-É a
Virgem do Rosário
Mãe de Deus, a Virgem pura
Menina
da saia branca
Que é
que traz nesse balaio?
-Trago
cravos e rosas
Para
a Virgem do Rosário”
Até o final da década de 1950, os Congos
costumavam realizar a Cerimônia do Mastro, em frente à Igreja de N.Sª das
Grotas sob a orientação de José Cassiano e, posteriormente, Cipriano. Oito dias
antes da festa, os Congos se dirigiam à Praça Matriz cantando, com todo
respeito:
“Vamos à Igreja
Vamos louvar
O pé do Cruzeiro
Vamos beijar”
Junto ao velho cruzeiro que ali havia, fincavam o mastro, em cuja
extremidade superior havia um quadro de tecido cor de rosa, pintado nas duas
faces com a imagem de N.Sª do Rosário, em moldura de madeira. Uma carretilha
fazia o quadro girar ao sabor do vento. Durante a cerimônia cantavam os mesmos
versos que cantam hoje ao se dirigirem à Catedral. O mastro ali permanecia até
sete dias após os festejos. No dia da festa, os Congos, devidamente
uniformizados, acompanhavam os futuros reis até a Igreja, cantando:
“Alegre
gente
Que
vou levar
Rainha
nova
Pra
coroar”
Durante a missa festiva o próprio
padre coroava os reis, após o que os Congos deixavam a igreja e iam derrubar o
mastro. Este era conduzido para a casa da rainha recém –coroada, onde
permaneceria até o ano seguinte. No percurso e volta os Congos também
acompanhavam, até suas casas, os reis do ano anterior, entoando a forma variante
da mesma quadrinha:
“Alegre gente
Que vou levar
Rainha velha
Pra entregar”
Esta cerimônia deixou de ser
realizada há cerca de12 anos. Atualmente, ao chegarem à catedral os Congos
entram em silêncio e ocupam os primeiros lugares. Às nove horas, participam da
missa solene em louvor de sua padroeira. Ao final da cerimônia, dançam em redor
da Catedral e reconduzem os reis à sua residência, sempre cantando:
“Viva
Maria no céu
Viva
Maria no céu
Viva
Maria no céu e na terra
Junto
com nosso Senhor.”
Em casa dos soberanos, régio café os aguarda.
No ano em que não há pagadores de promessa, ou se estes não têm condições de
oferecer-lhes o café, os Congos o tomam em casa do seu chefe, ou do seu guia, o velho Berto (Bertolino Cardoso
dos Santos), responsável pela direção dos ensaios desde um mês antes da festa.
O resto do dia os Congos gastam em seus
folguedos, dançando e bebendo cana. Costumam
visitar a casa de alguns de seus companheiros, membros da irmandade de Nossa
Senhora do Rosário, ou de pessoas que, de alguma maneira, contribuem para o
brilhantismo de sua festa. Nessas casas, costumam beber e, antes de retirar-se,
dançam um pouco em sinal de agradecimento:
“É
marujo do mar
-Marinheiro
só
Eu
também sou do mar
Marinheiro
só”
Seus cantos são uma mistura de louvor
à Virgem do Rosário e melancólicas toadas de marujos:
“Eu
sou marinheiro arrojado
Nos
mastros da gaioneira*
A
viugem Santa do Rosário
E a nossa padroeira
E a
nossa padroeira
A
viugem Santa do Rosário
Valei-me Nossa Senhora
E a cruz do
santo sacrário
Eu sou marinheiro arrojado...
Convidemos Vosssa Graça
Nem que seja num só fim
Vamos louvar a senhora
E ao
amado São Domingos
Eu sou marinheiro arrojado...
Ao
Senhor dos Navegantes
Seja o nosso amparo
A estrela que nos guia
E a Senhora do rosário
Eu
sou marinheiro arrojado...
Eu
sou navegante sem barco
Venha vós nos amparar
A Senhora
do Rosário
No céu, na terra e no mar
Eu sou “marinheiro...”
* gaioneira- deturpação do vocábulo
canhoneira.
Livro: Nosso
Vale... Seu Folclore Beira-Rio
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